7 de junho de 2013

Who's the boss?

Estamos em pleno Verão e dentro da agência está um calor abrasador. O meu staff queixa-se que não aguenta trabalhar nestas condições. Apesar de parecer desumano, não podemos gastar dinheiro neste momento mesmo estando a atravessar uma boa fase de trabalho. Decidi reunir com todos e ser franco:



- Obrigado por estarem todos presentes aqui. O motivo desta reunião é apenas um: o calor. Todos sentimos que trabalhar assim é impossível pois eu próprio também tenho alguma dificuldade mas não posso esconder a minha preocupação. Todos sabemos que estamos numa boa fase de trabalho mas isso não significa que seja sinónimo de muito dinheiro. Sabemos que este mercado é instável e de hoje para amanhã tudo pode mudar. Investir agora num sistema de refrigeração para toda a agência será bastante dispendioso, além do perigo financeiro que isso acarreta. Tenho duas ou três sugestões que gostava que apreciam e que chegássemos a um consenso. Pode ser?

O ar de todos os elementos era penoso. Os seus semblantes estavam cerrados com os rostos a brilharem com o suor. Notava-se a transpiração por todo o lado e eu sabia que este problema tinha de ser resolvido já.




- Qual é a solução então?

Pergunta-me o Paulo. Já trabalhava comigo há alguns anos e vi crescer aquele rapaz. Sempre admirei a sua humildade e vontade de melhorar a sua vida. Sofreu bastante com a guerra em Angola entre a UNITA e o MPLA. Os seus pais morreram num desses confrontos e o Paulo decidiu arriscar a vida em Portugal com o irmão mais novo. Quando veio trabalhar connosco perguntou à recepcionista quem era o patrão e pediu para falar comigo. Na altura estava com algum tempo livre e o Paulo foi directo comigo. Disse-me que estava a passar fome e que queria mudar a sua vida e que faria tudo para que lhe pagassem um ordenado. Ao principio fiquei incomodado com aquela realidade pois nunca lidei com aquela situação. Dei-lhe um posto de trabalho no arquivo da agência pois o seu conhecimento era pouco. Hoje orgulho-me da decisão que tomei. O Paulo é dos melhores criativos que tenho. Foi com ele que ganhamos o negócio da McDonalds depois de ter feito um trabalho excelente. Há decisões que marcam uma vida e o Paulo foi uma delas.

- Uma das soluções que pensei é trabalharmos por turnos. Trabalhamos todos ao mesmo tempo das 08h às 12h e das 17h às 20h. Isto porque o período de maior calor é entre o 12h00 e as 16h e assim estaríamos ausentes nas alturas de maior calor. Outra solução é comprar 10 ventoinhas e colocá-las na agência. Podemos não ter ar condicionado mas não por gastar dinheiro em ventoinhas que vamos à falência. 

- Mas estamos assim tão mal? Eu só vejo trabalho à frente. Nem tempo tenho para me coçar. - Interpelou-me a Joana. O seu estilo alternativo e reivindicativo por vezes não era bem visto. Já tive momentos em que me apeteceu despedi-la por estar sempre a reclamar com tudo e nunca está de bem com a vida. 

- Joana, como expliquei ao inicio, o investimento é dispendioso e apesar de estarmos numa boa fase, não significa que devamos esbanjar dinheiro. Eu não sei o dia de amanhã e não quero chegar ao ponto de ter de mandar pessoal embora. Por isso fiz esta reunião para, em conjunto, todos chegarmos a uma conclusão. 

- Oh mas isso não é nada. Andamos todos aqui a trabalhar como malucos e nem condições temos. Estou farta disto porra... - Se há coisa que me irrita é pessoas que são estúpidas o suficiente para não perceberem que há coisas que não podem ser como elas querem. E esta parva é uma dessas pessoas estúpidas.

- Acho que estás a injusta, Joana. Mas tudo bem. Continua assim com essa atitude. Podemos começar a resolver os problemas todos agora. Podes ir para casa e fazemos contas amanhã, que me dizes? - Passei-me por completo. De forma subtil tive de atacá-la para que percebesse que não é tudo como ela quer. Ao dizer-lhe isto, os restantes perceberam de imediato a mensagem e criticaram-na. Ao perceber que estava sozinha naquela "revolução agrária", olhou-me como raiva nos olhos.


- Fala a sério? É essa a sua maneira de resolver problemas? É? -  Esta miúda tem sérios problemas com autoridade, além de uma falha mental qualquer. Ainda por cima fez umas caretas que me irritaram imenso.




- Podes ir para casa, Joana. Não preciso de pessoas que me apresentem problemas. Preciso de soluções e tu, neste momento, és um problema que resolverei mais tarde. Agora, se fazes o favor, podes sair. - Custou-me imenso ter de a humilhar perante os colegas mas tive de reagir. Calmamente pedi-lhe para sair da reunião porque seria um entrave para uma resolução. Não tolero pessoas assim. Já me enervei por hoje e ainda não tenho este problema resolvido. - Desculpem por este momento menos bom. Não quero ser mal interpretado ou ser visto como um mandrião mas não me parece que a Joana neste momento esteja em condições de nos ajudar. Soluções? Há?

Ninguém respondeu. Ficaram a olhar para mim como se já tivesse sido decidido. Procurei acalmá-los.

- Pessoal, vá lá. Há muito trabalho e temos de fechar este assunto. O que se passou com a Joana foi um acto isolado, não se preocupem. Nada vai acontecer. Relaxem. 


Entretanto, a Beatriz decidiu opinar. 


- Parece-me bem a opção das horas. Assim posso ir às compras sem me preocupar com as horas. - Riram-se todos. A Beatriz era uma miúda engraçada. Com o seu próprio estilo, não dava muito nas vistas mas tinha um sentido de humor bastante apurado e isso cativava alguns homens. 


Depois de uma hora de debate chegou-se à conclusão que a melhor opção seria a compra das ventoinhas. Lá tive de pedir à recepcionista cujo o nome raramente me lembro, para mandar vir da Worten mais de dez ventoinhas para a agência. 


Entretanto, enquanto me dirijo para o carro, há alguém que me liga. Não me apetecia atender.


- Estou?


- Podes vir ter comigo às Docas? 


- Quem fala? - Aquela voz não me era estranha. Mas não estava a relacionar qualquer cara àquela voz.

- Preciso de ti. Estou lá às 19h. Não espero nem mais um minuto.



- Ma.... tu tu tu tu.... - Desligaram?! Às 19h? Mas são 18h45 e até às Docas são 20 minutos de carro, não estou lá a horas. 


Fui andando até às Docas mas será que iria apanha-la? 














2 comentários:

  1. Não se faz! Terminar assim com este suspense....
    Aiiii...

    ;)

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  2. Olá, Lust Eva. É verdade. Tenho de deixar pontinhas soltas para que o suspense continue. Só assim consigo manter a vossa exigência e que eu agradeço bastante.

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